Meu corno favorito

O amor não é uma única coisa. Não há definição universal para ele. Cada um ama a sua maneira, com seus desejos e particularidades. E essa diversidade de formas de amar acaba, muitas vezes, sendo suprimida pelo modelo normativo – e monogâmico – da sociedade. No entanto, é possível se relacionar de outras formas sem ser a habitual. E é neste caminho que se encontram os poliamorosos.

O poliamor é a prática de se relacionar amorosamente com mais de uma pessoa ao mesmo tempo, com o conhecimento e consentimento de todos os envolvidos. Ele parte do pressuposto de que o amor não é limitado, e que não há nenhuma qualidade que caiba apenas a uma pessoa. Cada relação pode ser diferente e satisfatória, respeitando os limites e necessidades de cada um.

Em uma relação poliamorosa, muitas vezes, há um dos parceiros que desempenha um papel mais passivo. É a pessoa que geralmente não tem outros parceiros, enquanto seu companheiro se relaciona com outras pessoas. Esse papel é desempenhado, muitas vezes, por homens heterossexuais, que consentem com a prática não monogâmica da parceira, tornando-se “cornos”. O que pode parecer um problema para alguns, para outros é motivo de felicidade. Esse é o meu corno favorito.

O meu corno favorito é o meu companheiro há mais de cinco anos. Nosso relacionamento é poliamoroso, ele é heterossexual, e eu tenho outros parceiros. No entanto, ele não se sente traído ou diminuído por isso. Pelo contrário, é um prazer para ele saber que eu me satisfaço com outras pessoas, desde que haja respeito e ética entre nós. Ele não se sente menos amado ou desconsiderado por dividir minha atenção com outras pessoas, pois sabe que isso não diminui o que sentimos um pelo outro.

O fato de chamá-lo de corno é uma escolha nossa. É uma forma de reverter o estigma que geralmente é atribuído ao termo. Na verdade, ele se sente muito feliz em poder me ver aproveitando minha vida sexual com outras pessoas que me interessam. Além disso, ele também desfruta da liberdade que o poliamor traz, podendo se relacionar com outras pessoas se desejar.

Talvez essa prática não seja para todos. Mas é uma alternativa viável para muitas pessoas que desejam se relacionar diferentemente do padrão social. O poliamor é um caminho que requer uma grande dose de autoconhecimento, confiança, ética e respeito. Para sair do modelo normativo da monogamia, é preciso estar preparado para lidar com sentimentos como ciúme e insegurança, sem quebrar as bases da relação. É um caminho que exige mais transparência e comunicação por parte dos envolvidos.

Ainda há muito preconceito em torno do poliamor. Porém, é importante lembrar que, para nós, essa é uma forma de amar e se relacionar que traz felicidade e satisfação. Não é necessário se encaixar em um modelo único de amor e relacionamento, desde que haja respeito, honestidade e autonomia dos envolvidos. Dessa forma, é possível caminhar em uma relação de poliamor de forma honesta e saudável, onde a felicidade e o respeito sejam as principais bases, sem deixar de lado o prazer e satisfação individual. Meu corno favorito é um exemplo disso.